sábado, 9 de maio de 2009

FEV 2008 - Parte III- U T I / Quarto

O Vitor foi para o Centro cirúrgico por volta das 8 horas da manhã e saiu por volta das 15 e seguiu para a UTI . Estava super inchado, com 15 tubos pendurados nele, inclusive com o respirador mecânico. Por volta das 17 horas chegaram os fisioterapeutas pra fazer o desmame do respirador . Fazia horas que não respirava sozinho e foram momentos muito difíceis, pois teve que reaprender a função. Tiraram-me da sala pra não presenciar tal procedimento. Eu só ouvia: “Respira Vitor, respira Vitor, vamos, vamos”. Passou algum tempo e me disseram que ele havia respondido bem e que agora estava somente com o balão de oxigênio...

Os médicos nos posicionaram que estava tudo bem, pois ele estava respondendo conforme o esperado e que iria acordar aos poucos da anestesia...

Quando acordou, era meu marido quem estava ao seu lado... Sua voz quase não saia, mas mesmo delirando conseguiu dizer bem baixinho: “Quero ir pra casa. Ninguém gosta de mim...” E uma lágrima escorreu de seus olhinhos... Não é fácil presenciar uma cena dessas... Parte o coração de qualquer pai ou mãe...

Já sabíamos que mesmo após insistentes tentativas não havia sido possível remover todo o tumor, por estar infiltrado difusamente... Passei a noite com o Vitor na UTI e os cuidados para com ele eram intensos... Qualquer pequena alteração nos marcadores dos aparelhos eram prontamente verificadas e então tomadas as medidas necessárias. A médica de plantão e as enfermeiras não saíram do seu lado... As áreas dentro do cérebro que controlam o coração e a respiração haviam sido manipuladas e estavam super sensíveis. Era remédio a todo instante... Ele ainda não havia acordado por completo e debateu-se a noite toda, mas eu estava ali para acalmá-la e dar todo amor e carinho do mundo. No dia seguinte foi acordando aos poucos e sua expressão era de total aflição... Ele não suportava os “fios” pendurados em seu corpo... E foram diminuindo pra 14, 13, 12, 11 ,10... Cada “fio” que retiravam dele, eu contava como uma vitória. Meu marido me ligava e eu dizia: “ Agora são só 8 fios”... Sabia que havia centenas de pessoas orando por ele...

Mesmo sabendo que estava recuperando-se da cirurgia de forma excepcional, ainda estávamos um pouco chateados, pois sabíamos que não fora possível retirar todo o tumor na cirurgia. Os médicos assistentes nos explicaram que o Dr. Sérgio Cavalheiro tentou inúmeras vezes aspirar todo o tumor e devido a riscos de parada cardíaca, achou melhor não arriscar mais, pois seus batimentos baixavam muito. Ficávamos perguntando: “Por que Senhor, por quê?” Acreditávamos que a cirurgia iria resolver o problema definitivamente...

Era o segundo dia do Vitor na UTI e fiquei com ele até por volta das 14 horas... Meu marido trocou comigo e eu fui pra casa pra descansar um pouco e retornar mais tarde... Na UTI, somente cortinas separam uns pacientes dos outros e naquela tarde chegou o Cláudio, um garoto lindo de 8 anos pra ocupar o leito ao lado do Vitor. Ele estava em coma e respirava por aparelhos. Um garoto forte e com aparência saudável... Era de cortar o coração.... A mamãe estava completamente desesperada e meu marido tentou acalmá-la... E ela relatou a história do filho... Eles eram da cidade Unaí de Minas, em Minas Gerais e dezesseis dias antes, o Cláudio derramou o chocolate fora do copo ao tentar colocar no leite... Perceberam também que de um dia para outro passou a arrastar uma das pernas... Levaram-no ao Hospital da cidade e foram realizados exames e constatado um tumor no tronco cerebral. Disseram que nada poderia ser feito, pois o tumor estava muito infiltrado. A mãe entrou em desespero e quase quebrou o Hospital , pois achava que os médicos não estavam querendo ajudar seu filho... Vieram para São Paulo e foram encaminhados ao GRAACC, onde os resultados foram confirmados... O tumor estava bem desenvolvido, o que tornava impossível a cirurgia. A única saída foi submetê-lo à radioterapia na tentativa de diminuir o tumor e então operá-lo... A radioterapia foi realizada no Hospital Albert Einstein, que tem parceria com o GRAACC. A região do tumor cerebral do Cláudio é a mesma do Vitor, na parte dos controles cardíacos e respiratórios, no tronco cerebral e qualquer leve edema pode comprometer estes nervos. Houve então parada cardíaca e conseguiram reanimá-lo, só que entrou em coma... E ele estava ali, do lado do Vitor....

Aquela situação foi “um tapa na nossa cara”... Reconhecemos o quanto estávamos sendo ingratos... Aquela mãe sim, tinha todas as razões do mundo pra estar em total desespero, pois os médicos a avisaram que seria difícil a reversão do quadro... Naqueles momentos, meu marido conversou bastante com aquela mãe, falando de Deus, que mesmo estando passando por tudo aquilo, Deus a amava e com toda certeza faria o melhor pelo Cláudio... Todas as pessoas que ligavam pra saber do Vitor, pedíamos pra orar também pelo Cláudio, pois a situação era desesperadora...

Foi necessário colocar a sonda naso-gástrica no Vitor, pois a sua função de deglutição estava prejudicada. Até a saliva tinha dificuldade de engolir e havia riscos de pneumonia, o que seria extremamente grave, devido às circunstâncias ... Esta parte foi de total sofrimento. Foram 3 tentativas de colocar esta sonda nele, sem sucesso, pois a sonda não ia para o lugar exato. Eles colocavam a sonda e em seguida batiam um RX pra ver se estava na posição correta... Na quarta tentativa conseguiram. Foi uma verdadeira seção de tortura. Ao total 4 tentativas e 4 RX de forma seqüencial...

Passei mais uma noite na UTI com o Vitor e a melhora era progressiva. Seu semblante ainda era de aflição, mas estava bem, respondendo maravilhosamente.

No terceiro dia de UTI foi liberado para o quarto... Tempo record para uma cirurgia deste porte... Já no quarto, seu companheiro seria o Yan, um garotinho de apenas 4 anos, que também realizara uma cirurgia cerebral de um tumor benigno em outra região do cérebro. O Yan teve algumas complicações pós cirúrgicas e já estava a quase 20 dias internado...

O Cláudio continuou na UTI e não mais o vimos. Na sexta-feira, meu marido e minha mãe encontraram seus familiares na recepção do Hospital e a notícia era que o Cláudio havia acabado de falecer... Ficamos arrasados... Como pode? Faleceu com 19 dias do diagnóstico... Como entender e aceitar uma situação dessas?

Sabemos que Deus é amor e ama cada ser humano igualmente, sem distinção alguma. Não somos melhores do que ninguém e nem merecemos os favores de Deus. Aliás, ninguém merece... Só no futuro entenderemos os propósitos de Deus na nossa vida. Um dia todo o sofrimento deste mundo irá acabar e teremos a chance de viver eternamente com nosso Senhor Jesus Cristo, onde não mais criancinhas inocentes nem qualquer ser humano sofrerá ou perderá sua vida ... Os planos de Deus são sempre os melhores para nossa vida!

O Vitor continuou no quarto, só que em situação totalmente apática. Havia TV com seus desenhos preferidos, livrinhos super legais, brinquedos, mas nada o fazia sorrir ou esboçar qualquer reação... Seu olhar era triste e distante. Ficava olhando fixamente para um ponto da parede... Foi uma felicidade enorme quando conseguimos fazê-lo sorrir pela primeira vez após a cirurgia... Foi quando minha irmã Mídia chegou para visitá-lo e começou fazer “palhaçadas” pra ele... Durante algum tempo resistiu, mas depois abriu um lindo sorriso e todos nós comemoramos! Ela trouxe pra ele os bonecos dos personagens piu-piu, frajola e mais um monte, que era o brinde do Mc Lanche Feliz na época. Ela fez os amigos do trabalho irem ao Mc Donald´s pra almoçar e comer o mc lanche feliz só pra trazer os brinquedos para o Vitor, pois ele gostava destes personagens. Trouxe até para o Yan, seu companheiro de quarto...

A cirurgia foi realizada na terça-feira e no sábado os médicos tentaram colocá-lo de pé e não conseguiram... No domingo também não foi possível, mas seu quadro clínico era bom e o melhor seria recuperar-se em casa, correndo assim menores riscos de infecção do que no ambiente hospitalar. Teve alta mesmo ser conseguir firmar-se no chão, mas os médicos diziam que a recuperação viria com o tempo e com fisioterapias. Continuava com a sonda naso-gástrica e nem água poderíamos dar pra ele. Toda alimentação deveria ser pela sonda... No dia da alta, os irmãozinhos o viam pela primeira vez após a cirurgia e era visível o semblante de espanto deles. Mas estávamos confiantes que todo aquele sofrimento iria passar e logo voltaria a ser a criança feliz e alegre que sempre foi.

Pudemos sentir a mão de Deus a todo instante em nossas vidas!

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